Poesias - Notícias - Politicagem - Comportamento - Cultura - Sexualidade - Assuntos Sérios - Bobagens Necessárias - e Tudo Mais Que Eu ou Vocês Queiramos Falar - Tudo isso abordado com discontração e irreverência, às vezes de modo requintado e às vezes com linguagem totalmente escrachada. Participem das discussões, proponham assuntos pra novos posts, e não façam cerimônia, porque aqui a gente fala Do Que Quiser Falar .

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Biografia de um qualquer

Fotografia tirada no centro histórico de Salvador (Pelourinho) - Fotógrafo desconhecido.

Por Alane Reis.
Sobre a paisagem urbana.


Eu nasci culpado
Carrego minha culpa na pele
Negrinho, preto, pardo
Assim a mim eles se referem

Desde criança pago pelo meu crime
Que sem saber cometi no ventre
Na fala, no olhar, o ódio se exprime
Mas minha culpa não me é aparente

Filho do mundo e das ruas
A gente nasce sem escolhas
Realidade é servida crua
Sociedade cega ou caolha

Ninguém conhece a minha cara
Pois estou em vários rostos
Nem ouve a minha fala
Quem está do lado oposto

- Moleque, pivete, delinquente
- Ladrãzinho, tão novo já descrente!

É menino, menina, homem e mulher
Animal? Vegetal? Gente não é!

BRASIL - UM PAÍS DE TODOS!?
Pra mim não chegou...
Igualdade é piada,
E o filme é comédia ou terror?

Do outro lado
A fronteira é o vidro do carro
Seu doutor assiste calado
A madame finge nem ver
Um povo que nasceu condenado
E a punição é viver!

... O tempo passa...

Pivete já é adulto
Quem cresceu no terror
Não conhece o amor,
Não entende o perdão
E de arma na mão é capaz de tudo.

Trafica, rouba, mata

Agora seu doutor
Quem foi caça é caçador

PÁGINA POLICIAL:
É morto fulano de tal a queima roupa por um marginal.

Está cumprido o destino do menino
Que quando na rua franzino
Ninguém soube enxergar
Hoje, meliante assassino
Sociedade e justiça sabem julgar.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Exú tranca as ruas de Salvador



Camaradas, mais uma vez, a tempos que não posto... assumo a minha preguiça, mas não venho pedir desculpas, escrever versos, e muito menos fazer piadas. Na madrugada de ontem, surgiu no twitter o movimento Exú tranca as ruas de Salvador, estudantes secundaristas e de nível superior, estão se reunindo na comunidade no orkut de nome homônimo ao movimento e se articulam para reviver a revolta do busú 2003, a maior e mais incisiva atuação do movimento estudantil no Brasil nos últimos anos.

A concetração está marcada para o dia 03 de janeiro, às 15 h, na Rótula do Abacaxi, Salvador. Amanhã, dia 30 de dezembro, aconterá na Biblioteca Central dos Barris, uma reunião para acordar as últimas deliberações.
Salvador não possui um transporte público de qualidade para justificar o aumento absurdo. O prefeito, como sempre, fez questão de propor o aumento nas férias para que os estudantes não pudessem se reunir.

A comunidade no orkut que foi criada hoje pela manhã já conta com mais de 1000 mebros, e galera toda promete estar lá dia 03.

Vamo provar que estudantes de férias também vão às ruas... O "Baêa" subiu, e Pituaçú ferveu, carnaval vem aí, e todo mundo se reuni. Vamos nos juntar pra cuidar do que é nosso também!!!

Vamos pular as catracas e trancar as ruas nesse grande ato!!!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Uma parada pra militância

Por Alane Reis.
Sobre um pedido de desculpas, uma oficina de formação política, e uma semente que deixei por aí.

Acordei hoje mais tarde do que deveria, matei aula de teoria do jornalismo, de prache. Preciso terminar de ler um livro pra fazer uma resenha que o prazo de entrega foi até ontem, por sorte o professor gosta de mim, disse até que tenho talento. TSC, ando meio desiludida, será que ele me dá um emprego? O cara é fodão, Sérgio Mattos, digita aí no google e olha o lattes, foi chefe do jornal A Tarde 20 anos, professor aposentado da UFBA, Folha de S. Paulo, O Globo, e não sei mais das quantas. Será que ele me dá um emprego? TSC, acordei meio viajada hoje, mal humor, alguma coisa me diz que é TPM.

O fato é que esse post seria pra justificar uns dias que passei sem postar... Uns dias?? DOIS MESES, o que eu andei fazendo? Aaah já sei, organizando um evento na universidade, o Fórum da Consciência Negra, foi lindo demais, conheci Cuti, sabe? Poeta negro, inventou o termo Negroesia, se não conhece digita no google, não tem Lula que bata, Cuti é o cara!

Núcleo de Negras e Negros em um dos eventos da semana da Consciências Negra. Cuti é o senhor de cabelos brancos, curto, camisa branca e verde.

Aaah, o NNNE (Núcleo de Negras e Negros Estudantes da UFRB) também me ocupou esses tempos, estávamos com um projeto de atuação na comunidade "Novembro Negro do Núcleo". Um dia desses foi massa, eu e Tamiz fomos pra Conceição de Feira, uma cidade aqui do interior/recôncavo da Bahia, pra fazer uma oficina de formação política com os estudantes do colégio estadual. Lembro que eu tava tremendo na base, medo da porra, sala de aula, uns 50 guris de 12 a 16 anos, a gente ia falar de Movimento Negro, afirmação da negritude, racismo, essas ondas, achei que eles iam achar um saco. Foi lindo! Uma coisa engraçada, quando eu disse que fazia jornalismo... um silêncio na sala, depois vozes baixas "UAU"... e eu aqui pensando num modo de não morrer de fome, rsrs.
Fazer formação política é o que há, a gente sente a sementinha plantando, e eu me empolgo, falo palavrão, grito, dou risada, quando falei da liberdade sexual feminina foi uma euforia que só, os meninos riam sem graça, as meninas levantavam pra bater palmas, que dia louco viu, rs. Em um momento caí no assunto "cabelo", essas ondas de alisar ou não, dá ou não chapinha, no meio acadêmico isso sempre gera discussão ferrenha, que já até dispenso. No estadual a maioria massiva das meninas negras têm o cabelo alisado.

Uma menina em especial me marcou, lá estava ela, no meio da sala, totalmente contra-hegemônica, talvez 12, 13 anos, estatura baixa, gordinha, negra, mas aquela pele preta que nenhuma diáspora conseguiu miscigenar, e o cabelo lá, DURO! Na resistência, as tranças do tipo nagô. Cá na frente estávamos nós, Tamiz linda, como negar? Uma preta pontual, o cabelo trançado, estilo nagô, super estilosa, o tipo da mulher que todo cara vira pra olhar. Do lado dela, estou eu, estatura baixa, gordinha, a pele preta, não tanto quanto a da menina, o meu cabelo, DURO! Pra cima! LINDO (nada de pretensão, as meninas de chapinha do estadual que me disseram). Eu e Tamiz estarrávamos: "Olha não pareço com nenhuma atriz da globo, meu cabelo é duro, minha boca e meu nariz são largos, e eu sou linda, e não sou eu que tô dizendo não, me dizem isso diariamente, você com o fenótipo parecido com o meu, que tem o cabelo igual ao meu, eu digo a você que você é linda", falávamos sem direcionar a ninguém. Sem direcionar o caralho! Falei com aquela menina, e ela sabe que foi pra ela, os olhinhos brilhavam, o sorriso era involuntário, que menina linda! São nelas que esse nosso racismo camuflado dói mais, idade difícil a dela, os meninos pretos procuram "Brunas Marquezinis" pra namorar... Sei bem como é.
Eh, é isso, prometo postar com uma frequência muito maior, já tenho bastante coisa pronta. Acho que realmente estou de TPM, nenhuma outra coisa me faria largar minha resenha atrasada pra escrever no blog depois de dois meses...

P.S.: Ela sabia que era pra ela, antes de sairmos do colégio e voltar pra casa, a menina nos procurou, me deu um abraço, pediu meu email, dei feliz, esperei ela se comunicar, não apareceu, não deu sinal de vida, não importa! Me basta a certeza, que aquela semente tá germinando.


Turma do Estadual de Conceição de Feira

Plantando a semente.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Paraguaçando. Paragua-sendo. Paragua-sinto.


A cidade dorme. O rio que afaga a ponte, reflete a lua... tão bela. Enamorada, senta - se na janela. A estranheza da noite, é a doce beleza de uma Quimera.

Por Alane Reis

domingo, 26 de setembro de 2010

Em defesa dos direitos da mulher


"Quando uma mulher é assassinada, estuprada, humilhada... todas nós somos também. É o feminino que é mais uma vez é agredido, é o femino que é mais uma vez julgado e condenado. O feminino é mais uma vez destituído do seu poder. Todas nós perdemos e somos feridas"

Mulheres do mundo unidas em prol da igualdade de gênero.

domingo, 19 de setembro de 2010

Olhares estranhos que se cruzam

Por Alane Reis
Um conto sobre família, valores, ideais e amizades inesperadas.


Estavam sentados no bar, rotina se verem aos sábados, ele sempre ia na cidade que ela morava antes de voltar pra casa, ela descia e o encontrava na praça. Não havia motivo específico numa amizade como esta, nenhum interesse, nenhuma afinidade cronologicamente construída, apenas uma compatibilidade estranha e uma cumplicidade comum àqueles subversivos.

Confuso, conheciam- se a vida toda, e no ano corrente foram apresentados. Riam sinceros. É fato, nenhuma cama de motel é tão eficaz em desnudar vergonhas e pudores quanto uma mesa de bar. Entre uma cerveja e outra, cada palavra compartilhada parecia um delito, mas tudo era tão puro, quase sagrado. Há uns anos atrás ela jamais pensara em mater uma relação sequer parecida, ele ao contrário, sempre enxergara na prima adolescente a mulher que se tornaria, que se tornaste.

Jhone beirava os 30, hoje era um pai de família, detententor da responsabilidade de gerir um lar. Conseguira o respeito entre os pais, primos, tios e tias, não sabe ainda se fora o filho, o casamento, o trabalho ou a juventude transviada que largaste para assumir as responsabilidades de homem. Já não era a "ovelha negra", timidamente passava à prima esse cargo.

Lara, quase 20 anos, já foi o orgulho da família, hoje possui hábitos estranhos. Ainda assim, saiu de casa aos 18, mudou pra uma cidade vizinha a que seu pai era oriundo, e moravam os seus parentes, dividia casa com amigas e estudava pra ser jornalista, não era muito de conversar, não nas reuniões familiares. Ela era diferente, todos sabiam disso, só não entendiam ao certo no quê. O pai se orgulhava, a mãe tinha medo.

Jhone e Lara, aos próprios modos viviam fugindo, foi a forma que encontraram para não perderem-se de si mesmos. Ele tinha o emprego perfeito, de segunda a sábado trabalhava numa cidade distante, sábado a noite ia vê-la, e de lá seguia de volta pra casa. Ela havia se mudado da casa dos pais, a universidade era como um mundo paralelo. Mesmo estando a uns 15 km de onde vivia a família de seu pai, era bom se sentir sozinha.

Sábado após sábado, a intensidade daquilo ia aumentando, o machismo regente da família em que vinham não tinha voz nessas conversas.
“Jhone não concordo com traição, por que você faz isso com sua mulher?”
“Lara, dê pra quem você quiser, sexo é bom, mas só com camisinha.”
“Sério Jhone? Você já usou todas essas coisas? Hoje você podia tá trabalhando pro Manassés, rsrs”
“Lara, você sabe que tem gente que acha que você é sapatona, isso não te incomoda não?”

Duas gerações da conservadora família católica. O que pensariam se os vissem ali? O homem casado no bar, sozinho com a prima. E por sinal, desde quando menina direita anda em bar? Ainda mais com homens casados... Que se foda o moralismo!Ele via nela um refúgio, ela via nele um confidente.

Almoço de domingo, motivo para falar da vida dos outros, estão todos da família. A prima que aos 20, recém casada. O primo pegador, socialmente apresenta a namoradinha virgem, ela quer ser enfermeira. A tia que já curtiu a vida, um dia foi “puta”, hoje mãe de família, dá lição de moral aos sobrinhos. O primo homofóbico, fuma unzinho de vez em quando, e longe de casa tem uns amigos viados. O primeiro filho, o irmão mais velho, o tio mais respeitado, pai de família, bom para esposa, é bom também em manter amantes sem que se saibam.

No encontro de mentirosos, falam do filho de Ciclaninho com Beltraninha que tem amigo vagabundo e colocou uma tatuagem. É culpa da mãe. Claro! Ela que não soube criar o filho... Enquanto isso, em cantos distintos da sala eles estão sentados, o ex porra louca, que hoje é pai de família, e a menina que já foi ideal mas agora anda com um cabelo pra cima e tem uns amigos com conduta moral reprovável. Os olhares se cruzam. Estranho... mal se cumprimentaram. Eles dispensam um do outro beijos na testa e palavras educadas.

Fotografia: Lasar Segall, Família; João Wener, Mesa de bar.

domingo, 29 de agosto de 2010

A juventude contemporânea, pelos olhos de uma jovem universitária da classe média baiana

Uma atividade acadêmica
Por Alane Reis

Fulana de Tal possui características comuns a inúmeros outros jovens da sua idade, gosta de assuntos que envolvam cultura e arte, e não resiste a conversas prolongadas em mesas de bar na companhia dos amigos, aos 19 anos, cursa a faculdade de comunicação social e experimenta pela primeira vez a sensação de morar fora da casa dos pais. Nascida em Salvador, a jovem reside atualmente em Cachoeira, cidade do recôncavo baiano, em que estuda.

Ao contrário da maioria das pessoas de sua faixa etária, a estudante não gosta de baladas de música eletrônica, acredita que a geração “emocore” é um insulto ao rock primordial, e apesar de ser fã da cultura popular, defende que a maioria das letras do chamado “pagode baiano” só reproduzem discursos discriminatórios de minorias historicamente reprimidas.

F. brinca e diz sofrer de velhice precoce, se explica dizendo que faz parte do grupo dos hippies pós-modernos, jovens contemporâneos carentes de ideais e personagens atuais do âmbito cultural engajados em causas políticas e sociais. Também chamados de netos do Woodstock, esses jovens costumam fazer parte das classes médias, estudam e trabalham, mas por se identificarem com os gostos e estilos de vida dos primeiros hippies da década de 60, ressuscitam heróis de seus pais e avós.

A estudante não escuta quase nada que surgiu depois do início dos anos 90, e se diz decepcionada com a sua geração: “Nós não lutamos por nada. A revolução digital nos entope diariamente com um turbilhão de informações, e nossos jovens silenciam as desigualdades, os preconceitos, os políticos corruptos e a degradação ambiental. Estão mais preocupados com a foto do perfil do Orkut ou em não repetirem roupas na balada”.

Filha de Beltrana de Tal, e Ciclano de Tal, oriundos de uma cidade do interior, e a 40 anos residentes da capital baiana. F. diz que às vezes fica chateada dentro da própria universidade, quando ouve de colegas, que preconceitos não são mais tão frequentes entre as pessoas mais jovens, e que as desigualdades sociais estão mais amenas, “quando ouço essas coisas fico pensando nas meninas que cresceram comigo, assim como eu, a maioria são negras, muitas nem concluíram o ensino fundamental, já são donas de casa e criam filhos”. A jovem morou a maior parte da vida em um bairro da periferia de Salvador, conhecido pela violência e tráfico de drogas, é uma das poucas pessoas de sua família a cursar ensino superior, e a primeira a entrar em uma universidade pública. F. diz que apesar de se incomodar com a “nova alienação” comum a sua juventude, entende que opiniões (para serem engajadas ou não) sofrem interferência direta nas vivências individuais, e tenta discutir assuntos como racismo, machismo e desigualdades nos meios sociais que frequenta.

E por aí, o que vocês acham dessa nossa juventude pós-moderna?