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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Uma parada pra militância

Por Alane Reis.
Sobre um pedido de desculpas, uma oficina de formação política, e uma semente que deixei por aí.

Acordei hoje mais tarde do que deveria, matei aula de teoria do jornalismo, de prache. Preciso terminar de ler um livro pra fazer uma resenha que o prazo de entrega foi até ontem, por sorte o professor gosta de mim, disse até que tenho talento. TSC, ando meio desiludida, será que ele me dá um emprego? O cara é fodão, Sérgio Mattos, digita aí no google e olha o lattes, foi chefe do jornal A Tarde 20 anos, professor aposentado da UFBA, Folha de S. Paulo, O Globo, e não sei mais das quantas. Será que ele me dá um emprego? TSC, acordei meio viajada hoje, mal humor, alguma coisa me diz que é TPM.

O fato é que esse post seria pra justificar uns dias que passei sem postar... Uns dias?? DOIS MESES, o que eu andei fazendo? Aaah já sei, organizando um evento na universidade, o Fórum da Consciência Negra, foi lindo demais, conheci Cuti, sabe? Poeta negro, inventou o termo Negroesia, se não conhece digita no google, não tem Lula que bata, Cuti é o cara!

Núcleo de Negras e Negros em um dos eventos da semana da Consciências Negra. Cuti é o senhor de cabelos brancos, curto, camisa branca e verde.

Aaah, o NNNE (Núcleo de Negras e Negros Estudantes da UFRB) também me ocupou esses tempos, estávamos com um projeto de atuação na comunidade "Novembro Negro do Núcleo". Um dia desses foi massa, eu e Tamiz fomos pra Conceição de Feira, uma cidade aqui do interior/recôncavo da Bahia, pra fazer uma oficina de formação política com os estudantes do colégio estadual. Lembro que eu tava tremendo na base, medo da porra, sala de aula, uns 50 guris de 12 a 16 anos, a gente ia falar de Movimento Negro, afirmação da negritude, racismo, essas ondas, achei que eles iam achar um saco. Foi lindo! Uma coisa engraçada, quando eu disse que fazia jornalismo... um silêncio na sala, depois vozes baixas "UAU"... e eu aqui pensando num modo de não morrer de fome, rsrs.
Fazer formação política é o que há, a gente sente a sementinha plantando, e eu me empolgo, falo palavrão, grito, dou risada, quando falei da liberdade sexual feminina foi uma euforia que só, os meninos riam sem graça, as meninas levantavam pra bater palmas, que dia louco viu, rs. Em um momento caí no assunto "cabelo", essas ondas de alisar ou não, dá ou não chapinha, no meio acadêmico isso sempre gera discussão ferrenha, que já até dispenso. No estadual a maioria massiva das meninas negras têm o cabelo alisado.

Uma menina em especial me marcou, lá estava ela, no meio da sala, totalmente contra-hegemônica, talvez 12, 13 anos, estatura baixa, gordinha, negra, mas aquela pele preta que nenhuma diáspora conseguiu miscigenar, e o cabelo lá, DURO! Na resistência, as tranças do tipo nagô. Cá na frente estávamos nós, Tamiz linda, como negar? Uma preta pontual, o cabelo trançado, estilo nagô, super estilosa, o tipo da mulher que todo cara vira pra olhar. Do lado dela, estou eu, estatura baixa, gordinha, a pele preta, não tanto quanto a da menina, o meu cabelo, DURO! Pra cima! LINDO (nada de pretensão, as meninas de chapinha do estadual que me disseram). Eu e Tamiz estarrávamos: "Olha não pareço com nenhuma atriz da globo, meu cabelo é duro, minha boca e meu nariz são largos, e eu sou linda, e não sou eu que tô dizendo não, me dizem isso diariamente, você com o fenótipo parecido com o meu, que tem o cabelo igual ao meu, eu digo a você que você é linda", falávamos sem direcionar a ninguém. Sem direcionar o caralho! Falei com aquela menina, e ela sabe que foi pra ela, os olhinhos brilhavam, o sorriso era involuntário, que menina linda! São nelas que esse nosso racismo camuflado dói mais, idade difícil a dela, os meninos pretos procuram "Brunas Marquezinis" pra namorar... Sei bem como é.
Eh, é isso, prometo postar com uma frequência muito maior, já tenho bastante coisa pronta. Acho que realmente estou de TPM, nenhuma outra coisa me faria largar minha resenha atrasada pra escrever no blog depois de dois meses...

P.S.: Ela sabia que era pra ela, antes de sairmos do colégio e voltar pra casa, a menina nos procurou, me deu um abraço, pediu meu email, dei feliz, esperei ela se comunicar, não apareceu, não deu sinal de vida, não importa! Me basta a certeza, que aquela semente tá germinando.


Turma do Estadual de Conceição de Feira

Plantando a semente.