Fulana de Tal possui características comuns a inúmeros outros jovens da sua idade, gosta de assuntos que envolvam cultura e arte, e não resiste a conversas prolongadas em mesas de bar na companhia dos amigos, aos 19 anos, cursa a faculdade de comunicação social e experimenta pela primeira vez a sensação de morar fora da casa dos pais. Nascida em Salvador, a jovem reside atualmente em Cachoeira, cidade do recôncavo baiano, em que estuda.
Ao contrário da maioria das pessoas de sua faixa etária, a estudante não gosta de baladas de música eletrônica, acredita que a geração “emocore” é um insulto ao rock primordial, e apesar de ser fã da cultura popular, defende que a maioria das letras do chamado “pagode baiano” só reproduzem discursos discriminatórios de minorias historicamente reprimidas.
F. brinca e diz sofrer de velhice precoce, se explica dizendo que faz parte do grupo dos hippies pós-modernos, jovens contemporâneos carentes de ideais e personagens atuais do âmbito cultural engajados em causas políticas e sociais. Também chamados de netos do Woodstock, esses jovens costumam fazer parte das classes médias, estudam e trabalham, mas por se identificarem com os gostos e estilos de vida dos primeiros hippies da década de 60, ressuscitam heróis de seus pais e avós.
A estudante não escuta quase nada que surgiu depois do início dos anos 90, e se diz decepcionada com a sua geração: “Nós não lutamos por nada. A revolução digital nos entope diariamente com um turbilhão de informações, e nossos jovens silenciam as desigualdades, os preconceitos, os políticos corruptos e a degradação ambiental. Estão mais preocupados com a foto do perfil do Orkut ou em não repetirem roupas na balada”.
Filha de Beltrana de Tal, e Ciclano de Tal, oriundos de uma cidade do interior, e a 40 anos residentes da capital baiana. F. diz que às vezes fica chateada dentro da própria universidade, quando ouve de colegas, que preconceitos não são mais tão frequentes entre as pessoas mais jovens, e que as desigualdades sociais estão mais amenas, “quando ouço essas coisas fico pensando nas meninas que cresceram comigo, assim como eu, a maioria são negras, muitas nem concluíram o ensino fundamental, já são donas de casa e criam filhos”. A jovem morou a maior parte da vida em um bairro da periferia de Salvador, conhecido pela violência e tráfico de drogas, é uma das poucas pessoas de sua família a cursar ensino superior, e a primeira a entrar em uma universidade pública. F. diz que apesar de se incomodar com a “nova alienação” comum a sua juventude, entende que opiniões (para serem engajadas ou não) sofrem interferência direta nas vivências individuais, e tenta discutir assuntos como racismo, machismo e desigualdades nos meios sociais que frequenta.
E por aí, o que vocês acham dessa nossa juventude pós-moderna?